A vida, em sua essência, é uma série de lutas e contratempos. Cada um de nós, sem exceção, está destinado a enfrentar adversidades diárias, com resultados que, na maioria das vezes, fogem ao nosso controle. O estoicismo, uma filosofia antiga, nos oferece uma perspectiva direta e fria sobre essa realidade: não há garantia de sucesso, felicidade ou satisfação no futuro. O que há, de fato, é o presente e, dentro dele, apenas o controle sobre nossas ações e atitudes. Contudo, essa percepção, ao contrário de trazer algum consolo, pode revelar o vazio inerente à existência.
Desmotivar-se, de acordo com essa visão, não é apenas uma possibilidade. É uma conclusão lógica. Afinal, quando analisamos a vida com olhos estóicos, percebemos que a maior parte do que almejamos e buscamos com tanto afinco está fora do nosso alcance. Queremos sucesso profissional, mas somos reféns de economias voláteis, chefes imprevisíveis, ou mesmo de infortúnios inesperados. Almejamos relacionamentos felizes, mas não podemos controlar os desejos e atitudes do outro. Buscamos saúde, mas o corpo, em sua fragilidade, adoece, envelhece e, inevitavelmente, se deteriora.
Epicteto, um dos grandes filósofos estóicos, afirmou que não controlamos o que nos acontece, apenas a maneira como reagimos. Se aceitarmos isso plenamente, torna-se difícil manter expectativas otimistas em relação ao futuro. A vida é imprevisível, e boa parte dela nos escapa. Por que, então, nutrir esperanças? O esforço em planejar, controlar e prever é, em última instância, frustrante. Mesmo o desejo mais ardente pode ser anulado por forças alheias à nossa vontade.
O grande paradoxo do estoicismo está na busca pela aceitação dessa impotência. A filosofia nos convida a não reagir aos reveses da vida com desespero, mas sim com calma e resignação. No entanto, essa aceitação não é sinônimo de entusiasmo ou motivação. Na verdade, pode-se argumentar que ela promove um tipo de desmotivação profunda. Afinal, quando compreendemos que o controle total é uma ilusão, qual é o ponto de tentar? Por que investir tempo e energia em projetos que, na maior parte das vezes, não dependem inteiramente de nós?
Essa visão fria e implacável da realidade muitas vezes esmaga a ideia de que o esforço humano é capaz de moldar o destino. Se tudo o que controlamos é nossa reação aos eventos, e esses eventos frequentemente nos são adversos, a tendência natural é diminuir a importância das realizações externas. Trabalhar arduamente para alcançar um objetivo pode ser visto como uma ilusão – um teatro no qual fingimos ter controle sobre resultados que, na verdade, estão à mercê de forças muito maiores.
Marcus Aurelius, em seus "Pensamentos", aconselha que devemos fazer o nosso trabalho da melhor maneira possível, sem esperar reconhecimento ou resultados grandiosos. Mas esse conselho carrega consigo uma sombra: ele nos lembra que a vida, com toda a sua beleza potencial, é transitória e imperfeita. Qualquer sucesso será breve, qualquer triunfo será rapidamente esquecido. E, portanto, qualquer motivação para seguir em frente parece diluir-se nesse cenário.
Desmotivar-se, sob uma lente estóica, pode ser visto como a aceitação última da realidade. O mundo não se curva aos nossos desejos e expectativas. A natureza é indiferente aos nossos planos, assim como o universo. Ser desmotivado, neste contexto, não é um fracasso, mas uma consequência lógica de entender os limites humanos. Quando compreendemos que somos apenas uma pequena parte de um vasto ciclo de eventos, a urgência de lutar, de nos esforçar, de buscar mais do que o que já temos, perde seu sentido.
A desmotivação, portanto, não é apenas aceitável, mas talvez inevitável. O estoico moderno, ao abraçar essa verdade, pode não encontrar na vida grandes motivos para celebração ou empolgação. No entanto, encontra uma forma de paz: a paz que vem ao aceitar que, em última instância, nada do que fazemos tem grande importância, e tudo o que podemos esperar da vida é o que já temos diante de nós. E isso, por mais desmotivante que pareça, é a única verdade incontestável.
Ao final, não há grande propósito. Não há garantias. O sucesso, a felicidade, ou mesmo a tranquilidade, são estados temporários, sujeitos ao capricho de forças que jamais poderemos controlar. E assim seguimos, vivendo, aceitando a insignificância da nossa existência, desmotivados, mas em paz com essa conclusão.
Imagem: trabalhadores à beira de um precipício. Gerada por IA.
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